quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

SOCIEDADE | São Miguel cada vez maior

"São Miguel a caminho dos 60 por cento" foi o título escolhido pelo jornal Diário dos Açores para noticiar na sua edição online que a maior illha do arquipélago adquiriu "um peso de 56% da população regional, com 138.551 dos 247.549 residentes dos Açores"

O periódico micaelense citou, ontem, os Anuários de 2012 do Instituto Nacional de Estatística (INE) adiantando que "tendo em conta os dados conhecidos, nomeadamente os recenseamentos decenais desde 1900, é a primeira vez que S. Miguel atinge esse valor". E continuou: "No resultado do Censos de 2011, que levou a uma correcção de 2,63% em relação aos dados do ano de 2010 (que, como os de 2012, são por projecção), S. Miguel já revelava esse aumento substancial, mas tinha-se ficado pelos 55,9% da população."

O jornal lembrou que "pelos censos decenais, o ano com menor peso da população terá sido o de 1900, em que S. Miguel apenas tinha 47,6%" e acrescentou que "neste momento, S. Miguel parece assumir uma tendência para se aproximar dos 60% da população açoriana".

Reações

Um fac-simile da notícia do Diário dos Açores publicada na respectiva edição impressa foi reproduzido no Facebook por Sá Couto, merecendo, até à noite de hoje, alguns comentários, dos quais se destaca o do faialense José António Martins Goulart, professor universitário jubilado e antigo líder do Partido Socialista nos Açores, figura proeminente no advento do regime autonómico açoriano consagrado na Constituição da República Portuguesa de 1976.

Referindo-se aos dados noticiados Martins Goulart considera-os "a prova mais evidente de que os princípios fundadores do regime da Autonomia Regional foram sistematicamente desrespeitados e subvertidos ao longo das últimas quatro décadas".

"Em vez de se ter procurado construir uma comunidade insular solidária e coesa - que constituiria o indispensável alicerce da almejada unidade regional - o desequilíbrio demográfico foi a ferramenta manejada por gente sem escrúpulos que, traindo os ideais autonómicos, consolidaram uma nova estrutura de poder, centralista, de âmbito regional, porventura mais dominadora e mesquinha do que 'velha' sede de poder que ainda se exerce a partir do Terreiro do Paço", remata aquele que foi um dos antecessores de Carlos César à frente do PS-Açores, sobre quem, mais do que divergir, alimentou, até hoje, uma forte e dupla atitude crítica, ora por omissão, ora por ação, ainda que aquela quase continuada.

José António Martins Goulart também foi, na história do regime autonómico, uma das personalidades, ou, talvez, a personalidade que se destacou, nomeadamente no plano parlamentar, com maior brilhantismo e denodo, na oposição ao "consulado" de Mota Amaral.

Curiosamente, o autor da notícia do "Diário", o jornalista Manuel Moniz, respondeu ao comentário de Martins Goulart com uma desvalorização da interpretação dada aos números: "Isso até poderia ter sido assim se houvesse inteligência nos Açores! Infelizmente, e como em quase tudo o que se passou nas últimas 4 décadas, isto é fruto do... acaso!"

Outro participante na troca de opiniões sobre este assunto resumiu a sua posição dizendo que "as assimetrias" são um "velho problema português".

ECONOMIA | "Gilberto Mariano" entrou nos Açores pelo porto da Madalena

O porto da Madalena na ilha do Pico foi o primeiro dos Açores a receber o novo navio da Atlânticoline. Numa passagem simbólica pela terra da personalidade que lhe deu o nome - que o padre Marco Martinho classifica de "momento histórico, único e irrepetível" - o Gilberto Mariano acompanhou a chegada à Madalena do Cruzeiro do Canal às 11 horas de ontem

O Gilberto Mariano à chegada ao porto da Madalena, num troço de mar que Gilberto Mariano da Silva percorreu durante uma vida inteira [fotografia de Marco Martinho]
O Mestre Simão, primeiro navio mandado construir pelo governo regional para as ligações marítimas de passageiros e viaturas do Triângulo dos Açores, deu entrada no porto da Horta no passado dia 23 de outubro, exibindo o nome do faialense Manuel Alves, que ficou conhecido por Mestre Simão, já falecido, antigo mestre das lanchas do Pico e filho de Simão Alves.

O segundo navio da Atlânticoline que irá operar entre as ilhas de São Jorge, Faial e Pico chegou ontem e antes de atracar também no porto da Horta passou pelo porto da Madalena, de forma simbólica, terra onde nasceu Gilberto Mariano da Silva, igualmente falecido e cujo nome foi escolhido para designá-lo.

Gilberto Mariano da Silva tem uma história de vida ligada ao Canal entre o Pico e o Faial, através do qual desempenhou um papel que se poderia classificar como de carteiro do Canal, pois nas suas mãos e à sua confiança foram entregues muitos cabazes, cartas e outros tipos de encomendas que circularam entre estas duas ilhas.

Um gesto sublime

O sacerdote faialense colocado no Pico, Marco Martinho, escreveu no Facebook [ver aqui texto e álbum de fotografias] que "foi sublime o gesto desta entrada simbólica do Gilberto Mariano no Porto da Madalena, antes de ancorar ao Porto da Horta". Marco Martinho diz que "pecou somente por não ter sido divulgado aos madalenenses". Se o tivesse sido o padre Martinho não duvida que "seriam centenas em cima do cais, em vez das pouco mais de duas dezenas de pessoas que presenciaram este momento histórico, único e irrepetível".

Em jeito de reportagem, Marco Martinho, que, entre outras funções, é o pároco da Madalena, informa que a filha e dois netos de Gilberto Mariano da Silva "apanhados de surpresa rumaram ao cais". O sacerdote testemunha  "a alegria e emoção" que sentiram ao ver o nome do seu pai e avô "nesta nova embarcação que perpetuará o seu nome sobre as ondas deste mar, que milhares de vezes atravessou ao serviço das gentes dos dois lados deste canal".

VÍDEO, DA AUTORIA DE MANUEL SOARES, SOBRE A CHEGADA AO PORTO DA HORTA DO NAVIO GILBERTO MARIANO >